domingo, 20 de novembro de 2011

173 - 37 dias, 36 noites



Para meu Irmão e Irmã por já terem quebrado alguns ossos e dar a luz, respectivamente, ficar internado não constituiria uma novidade. Porém para mim, sim.
Trinta e sete dias e trinta e seis noites foi o período que durou minha internação.
A saudade da Família, dos Amigos, da rotina cotidiana, coisas comuns que fazemos no dia-á-dia ficou ainda maior com o passar dos dias.
Descobri que operar não é difícil, mas o pós-operatório pode ser bem menos fácil de levar.
Eu, que já trabalhei em hospital, vi como ele funciona na visão de um paciente.
Há muita solidariedade, entre os que esperam, seus parentes e por parte do corpo médico e de enfermagem, uma paciência  e boa vontade quase infinitas.
Tive quatro companheiras de quarto - fiquei internada em uma enfermaria só para mulheres.
A primeira, uma senhora muito simpática, cujos familiares não paravam de rezar por ela, em determinada madrugada sofreu um infarto e teve que ser transferida para a uti. Eles me presentearam com biscoitos, bonequinhos, sabonetes e muitas, muitas orações.
A segunda, uma jovem de outro estado, saiu de lá, ainda com um certo cuidado, me deu um baton e sua cunhada uma Coruja de feltro e muitas orações.
A terceira,  ficou uma semana, determinada a fazer o que queria, na hora que queria. Foi para casa bem, desejou-me muita sorte.
A quarta, uma mãe com um caso grave, mas cheia de esperança de continuar por mais tempo viva. Compartilhamos refeições, apreensões, esperanças, lágrimas e orações. 
Partiu cinco semanas depois que saí.
Fiz ainda duas amizades no quarto vizinho. Uma foi para sua casa, muito feliz por poder fazer a diálise na clínica que estava acostumada, voltar a andar de carro, fazer companhia para sua mãe e cuidar de seus cachorrinhos. A outra também voltou para casa, perdeu o cabelo após a segunda sessão de quimioterapia, mas diverte-se com suas perucas e toucas e continua linda.
Eu perdi a voz. Continuo fazendo tratamento com fonoaudióloga, porém de momento ainda estou muda.
Em casa e entre a Família, estamos desenvolvendo a "linguagem do Amor". A Matriarca e Eu vamos nos entendendo na medida do possível, uma vez que não falo e ela não pode ler o que escrevo.  Minha Irmã e sobrinho mais velho, são os que melhor compreendem minha linguagem labial.
De momento só troca de sms com os Amigos e até já arrisquei um passeio. Foi maravilhoso.
Poderia ter saído mais vezes, hoje mesmo, se quisesse, mas ainda prefiro me resguardar um pouco.
Tudo para poder ficar mais tempo em companhia do Ser que mais sofreu com minha internação. Chorou muito quando comuniquei minha decisão de operar e prometi á ela que voltaria. Poucos minutos antes da cirurgia pedi ao médico-chefe: "Doutor, não me deixe partir. Eu prometi á minha Mãe que voltaria." Ele assegurou que Eu voltaria. E Estou aqui. Com algumas sequelas além da perda temporária da voz, mas ainda aqui nesse patamar. E muito Grata e Feliz por ter mais um tempo para Compartilhar tanto Bem com tanta Gente de Bem.
Há duas semanas, encontrei no ambulatório minha primeira companheira de quarto. Ela sofreu mais dois infartos depois daquele, teve que respirar através de aparelhos e ficou internada mais um mês depois que saí. Estava bem mais magra, mas em companhia do marido e da filha, era a expressão da própria felicidade.
Nos abraçamos fortemente.
A Vida segue. Nesse e outros patamares.


Para D.M., R., J. e V. (in memoria aeterna)


2 comentários:

Giane disse...

Teria ainda muito o que escrever sobre essa experiência. O Caderno de Páginas Amareladas precisava ser "repaginado" e atualizado e alguns "anjos caídos" da minha mente serem "exorcizados". Posso não ter escrito tudo, mas enfim, escrevi.
E espero não passar mais tanto tempo longe daqui.

A Vida Segue.

Layla disse...

Todas as nossas experiências, mesmo as mais dolorosas, têm sua razão de ser, sua finalidade... Aprender com elas, com as pessoas que chegaram até nós, é o que nos cabe... Obrigada por compartilhar, amiga.

Um beijo e que a recuperação seja leve.

Salaam
Layla

Related Posts with Thumbnails